
Tem campistas no samba paulistano! As raízes de Campos por lá estão, especialmente, na fundação da Mocidade Alegre, escola de samba 12 vezes campeã do grupo Especial do Carnaval de São Paulo, sendo o último título conquistado no ano passado, quando foi bicampeã.
Embora a escola de São Paulo só tenha sido fundada em 1967, sua história já tinha sido iniciada há quase 20 anos, ainda como bloco de rua. Tudo começou na década de 50, quando um grupo de homens fantasiados de mulher saía pelas ruas de São Paulo. Estamos falando dos irmãos campistas Juarez e Salvador da Cruz e mais dois amigos. Eram de uma alegria de chamar atenção, inclusive do locutor de Carnaval da avenida, que fez questão de exaltá-los como “um grupo muito alegre”. Nos anos seguintes o bloco foi aumentando, com a presença de outro irmão, Carlos. E, em 1967, com a oficialização do Carnaval de São Paulo, finalmente foi criado o Grêmio Recreativo Mocidade Alegre, tendo como primeiro presidente o campista Juarez da Cruz, que teve participação fundamental no desenvolvimento do Carnaval de São Paulo.
A história da escola paulistana envolve não somente pessoas de Campos, mas também a tradicional escola de samba local, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Louca, atual Associação de Arte e Cultura Escola Mocidade Louca. De acordo com dados históricos da Mocidade Alegre, até mesmo o nome da escola paulista teria surgido a partir do nome do então bloco campista, hoje escola de samba Mocidade Louca, fundada pelo carnavalesco, sambista e escritor campista Jorge da Paz Almeida, carinhosamente chamado de Jorge Chinês, outra figura campista importante na história do samba.
Nesta época, Jorge Chinês participava ativamente de simpósios nacionais do samba no eixo Rio-São Paulo. Na época, líderes sambistas dos dois Estados se reuniam para troca de experiências e busca de apoio das autoridades competentes para seus blocos de rua. E Jorge Chinês estava lá, juntinho com os carnavalescos das capitais.
Se tivéssemos falando dos dias atuais, poderíamos dizer que os irmãos Cruz e Jorge Chinês eram os marqueteiros e influenciadores da época. E se as “Mocidades” de São Paulo e de Campos chegaram até o século 21 cheias de títulos de campeãs, formando sambistas e fazendo escola, foi graças a esses abnegados carnavalescos.

escola em um dos maiores ícones do samba de São Paulo.
TRADIÇÃO CULTURAL DO SÉCULO 20

Grêmio Recreativo Escola de Samba
Mocidade Louca, atual Associação
de Arte e Cultura Escola Mocidade
Louca, cujo nome inspirou a escola
paulistana Mocidade Alegre, fundada
por outros campistas.

campistas que fundaram a escola, é a
atual presidente da Mocidade Alegre,
agremiação 12 vezes campeã do
Carnaval de São Paulo.
Por causa de suas idas e vindas dos seminários no eixo Rio-São Paulo, Jorge da Paz Almeida acabou trazendo para os campistas a prática do reconhecimento das escolas de samba como expressão cultural popular, fundando, a partir daí, o bloco Mocidade Louca, que, mais tarde, deu origem à escola de samba Mocidade Louca.
– Ele também deu o mesmo tom e seriedade às demais agremiações fundadas aqui, como por exemplo, a escola de samba Madureira do Turf, entre outras – conta Cléa Leopoldina Moraes Almeida, filha de Jorge e doutora em Política Social pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Expert no assunto, ela desenvolveu sua tese sobre “A influência feminina negra na construção das escolas de samba no Estado do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do Século XX”.
Ela explica que as escolas de samba surgiram na década de 20 e, já na década de 30, tinham o reconhecimento enquanto expressão cultural popular nascida nas periferias e morros do Estado do Rio.
Por volta da década de 40 e 50 em Campos, um grupo de rapazes se fantasiava de mulher e saia às ruas no Carnaval, dando origem à Academia de Ritmos Mocidade Louca. Esse nome pomposo “Academia de Ritmos”, na opinião de Cléa Leopoldina, deve ter sido dado à agremiação em função da vivência de Jorge da Paz nas capitais. “Nessa época, no Rio, tinha todo um refinamento por parte do poder público com a cultura popular”, completa.
ALEGRE E LOUCA: MOCIDADES CHEIAS DE HISTÓRIA

Moraes Almeida é filha do campista Jorge
da Paz Almeida, o Jorge Chinês, e conta
sobre a relação do pai com o Carnaval e
sua contribuição para a cultura popular.

escola campista Mocidade Louca.
Na São Paulo de 1992, o então presidente da Mocidade Alegre, Juarez da Cruz, passou o cargo para seu irmão, Carlos Augusto da Cruz, que faleceu anos mais tarde, sendo substituído pela sua filha, Elaine. No entanto, ela precisou se afastar por problemas de saúde e passou o bastão da presidência para a então vice- -presidente, sua irmã Solange Cruz, atual presidente da Mocidade Alegre.
Já em Campos, Jorge da Paz, o fundador da Mocidade Louca, faleceu em 2009. Pela presidência da agremiação passaram vários nomes, estando atualmente com o carnavalesco Jorge França que, com muito esforço junto a todos os adeptos da “Louca”, faz com que ela continue cumprindo seu papel cultural e social.
Jorginho França fala com entusiasmo sobre a escola que, segundo ele, está há meio século no coração dos campistas e em plena atividade até os dias atuais.
– Falar da Mocidade Louca é falar de um pavilhão de força positiva em Campos e região. A agremiação é um pouco de tudo, amiga, parceira, solidária, buscando caminhos positivos para muitas pessoas que a acompanham. A Mocidade sempre trouxe uma alegria muito grande para mim, para as famílias e para todos que frequentam o seu espaço no Morrinho. Um estandarte de ouro nas nossas vidas. Que possamos por muitos anos levar a bandeira da escola, divulgando a cultura e a história de diferentes povos – finaliza.