Perto do Fogo

Receita escolhida, ingredientes selecionados, boas facas à postos, temperos posicionados e brasa já acesa. A cozinha não é de nenhum restaurante, nem há auxiliares, mas a boa comida está garantida. E a cerveja gelada para acompanhar o churrasco também. A cozinha, montada na área externa da cobertura em que mora é o lugar preferido da casa de Rick Araújo, cozinheiro amador que não perde a oportunidade de criar bons momentos com amigos ao redor da mesa (e da churrasqueira). Afinal de contas, já cantava Titãs: “a gente não quer quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Carioca da gema, Rick adotou Campos como cidade do coração há cerca de 20 anos. E se a praia de Atafona, em São João da Barra, é o seu paraíso na Terra, a cozinha é o seu lugar de paz, que remete às memórias da infância, quando acompanhava o pai no preparo da comida.

Apaixonado pela cozinha rústica, aprimorou seus conhecimentos com a prática no dia a dia, mas credita à participação nos maiores e mais importantes eventos de churrasco do Brasil seu aprimoramento. Na sua cozinha não podem faltar organização, limpeza e boas facas: “Tirando isso, a cozinha rústica nos pede muito pouca coisa, além do fogo”.

Profissionalmente, ele atua fazendo a prospecção de grandes áreas pra implantação de supermercados, em São Paulo, o que demanda muitas viagens. Mas isso não o impede de pensar em transformar seu hobby
em negócio. Alguns pro- jetos estão em mente e

Rick garante que a Fever saberá em primeira mão. Vem surpresa por aí? Sim, chef!

Foto: Thássia Stutz

Fever – Qual sua história na gastronomia e como surgiu o desejo de cozinhar?

Rick – Minha história na gastronomia se confunde com o desejo de cozinhar. Desde pequeno, minha referência na cozinha era meu pai, e naquela época não existia esse interesse na gastrono- mia como vemos hoje, principalmente dos homens. Eu me encantava em ficar ao lado dele, olhando os processos e vibrando cada vez que me pedia ajuda. Trago isso até hoje, numa sequência natural, primeiro cozinhando em casa, depois para os amigos, até que surgiram os eventos gastronômicos que participo.

Fever – Você é especialista e um apaixonado por churrasco. É o que você mais gosta de fazer na cozinha ou tem outros pratos?

Rick – Sou apaixonado pela cozinha rústica, não apenas o churrasco. O churrasco é a essência da cozinha rústica. Com uma boa proteína, uma lenha ou carvão, em qualquer local consegue o preparo. Então nada mais democrático também. Mas os assados de uma forma geral, de cozimento lento ou defumados, me encantam. Os frutos do mar de uma forma geral, mas principalmente na bras, a comida de boteco, as gastronomias espanhola e portuguesa, e a brasileira então… Uma boa rabada, uma moqueca saborosa, até os acompanhamentos podem ser preparados dessa forma, então eu diria que o fogo me encanta, mas estou à vontade em qualquer cozinha.

Fever – Você já participou de eventos voltados para churrasco: como foi a sua atuação e qual a importância de participar deles?

Rick – Tive o privilégio de participar dos maiores e mais importantes eventos de churrasco do Brasil, com destaque para a Churrascada e o Bárbaros, em São Paulo; e o BBQ Beerfest, no Rio de Janeiro. Foi fundamental para meu aperfeiçoamento. Lá estão os maiores nomes do churrasco do Brasil e até de fora do país. Tive a honra de trabalhar junto com Roberto Barcellos, que considero a maior autoridade em carnes do Brasil, atuando na produção, desde a fazenda até a churrasqueira. E também um fenômeno chamado Marina Mattos, que considero uma das chefs mais talentosas do Brasil e a melhor disparado na culinária rústica.

Foto: Thássia Stutz

Fever – Já pensou em organizar em Campos algum evento do tipo?

Rick – Sim, mas não nesse formato dos grandes festivais. Eles se espalharam numa velocidade muito grande, e, na maioria dos casos, estão dando valor à quantidade de pessoas e não à qualidade do produto servido. Meu projeto aqui para Campos é um outro formato que está se difundindo muito, de eventos menores, com produtos de extrema qualidade.

Fever – Por que existem cortes de carne mais caros e outros mais baratos? Quais fatores influenciam no valor?

Rick – Esta é uma pergunta extrema- mente complexa, mas vou tentar resumir. Além de algumas variáveis, como genética, nutrição, manejo do pasto, tempo de abate, etc, existe, no meu ponto de vista, um fator que faz o diferencial entre uma carne nobre e uma carne do segmento premium: a padronizacão. Com a escolha perfeita das carcaças, o controle de qualidade, cuidados de armazenamento, você terá sempre o melhor resultado possível. Em resumo, neste segmento não existe a expressão “ah, essa picanha veio muito boa”. Ela tem que estar sempre boa. E isto é que leva a ter um custo mais alto que as outras, mas o resultado vale a pena, posso garantir. Essas são as carnes que chamamos de “consagra churrasqueiro”. É o caminho que quero seguir em Campos.

Fever – Quais são seus acompanhamentos favoritos?

Rick – Existem os acompanhamentos clássicos do churrasco, como uma boa farofa, algum tipo de batata, os molhos, sendo por aqui o mais tradicional o vinagrete, porém outros molhos também têm feito bastante sucesso, como o chimichurri e a salsa criolla. Em grandes casas de carne tem sido normal acompanhar o prato com vegetais grelhados, palmito pupunha grelhado e até creme de espinafre, uma boa polenta cremosa. Enfim, o acompanhamento também é bastante democrático no churrasco.

Foto: Thássia Stutz

DICAS PARA FAZER UM BOM CHURRASCO | POR RICK ARAÚJO
– Uma carne de qualidade;
– Fogo, muito fogo;
– O controle da temperatura da churrasqueira é fundamental;
– Paciência também é desejável, não mexa muito na carne;
– Dependendo do corte e do ponto desejado, três a quatro minutos de cada lado é suficiente;
– Não precisa ficar virando a carne a toda hora;
– E uma cerveja gelada, para refrescar o calor da churrasqueira.