EMPREENDA + MULHER

As mulheres estão ocupando cada vez mais espaços e alcançando resultados que, alguns anos atrás, seriam inimagináveis. No mundo do empreendedorismo, não é diferente! No entanto, elas ainda precisam superar alguns obstáculos e enfrentar desafios que não são comuns aos homens. Com o objetivo de ampliar a participação feminina e a igualdade de oportunidades para a promoção do empreendedorismo e pelo empoderamento das mulheres no território fluminense, surgiu o Programa Empreenda + Mulher.

Com ações de sensibilização, capacitação, rodadas de negócios, rodadas de crédito, entre outros, a iniciativa surgiu de uma parceria entre a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços – SEDEICS e a Secretaria de Estado da Mulher – SEM. Na primeira edição do Empreenda + Mulher, no Rio de Janeiro, a Rodada de Negócios teve a participação de 91 empresas fornecedoras e 15 empresas âncoras compradoras, tendo sido realizado um total de 273 reuniões entre as empresas, com potencial de negócios de mais de R$ 1 milhão. Na segunda edição, em Petrópolis, a Rodada de Negócios teve a participação de 54 empresas fornecedoras e 12 empresas âncoras compradoras, sendo 324 reuniões entre as empresas, com potencial de negócios de R$ 5,780 milhões. Na Rodada de Crédito da primeira edição foram realizadas 144 reuniões entre as empresas e as instituições financeiras presentes. Já na segunda, houve 38 reuniões.

Fotos: Arquivo

De acordo com a Secretaria da Mulher, o Programa entende que local de fala e representatividade são muito importantes quando se fala sobre empreendedorismo feminino: “Ouvir um case de sucesso contribui para a jornada da mulher que está iniciando um negócio. Ela pode se inspirar e aprender por meio de experiências reais, tanto na prática do empreendedorismo como nos desafios pessoais. Por isso, uma das ações é o Painel com Lideranças Femininas de destaque na gestão pública e no mundo dos negócios.”

REFERÊNCIAS FEMININAS INSPIRADORAS

Na primeira edição do Empreenda + Mulher, realizada no Palácio Guanabara, o Painel com Lideranças Femininas contou com falas inspiradoras da primeira-dama e presidente de honra do RioSolidário, Analine Castro; da secretária de Planejamento do Ministério do Planejamento, Leany Lemos; da prefeita de Quissamã, Fátima Pacheco; da empresária Barbara Cristina dos Santos, proprietária da empresa Caldo da Nega; e da empresária Sharon Azulai, diretora da Blue Man, para citar alguns exemplos. Na segunda edição, o Painel com Lideranças femininas contou com gestoras públicas e empresárias que, através de suas histórias, inspiraram as participantes do evento e empreendedoras locais de destaque, em diferentes ramos de atividade. Além de conhecer a história de mulheres inspiradoras, são realizadas Rodadas de Negócios e de Crédito, exclusivamente para empresas fornecedoras lideradas por mulheres. Nelas, as
participantes têm reuniões agendadas com o setor de compras de empresas públicas e privadas para conhecer as demandas e formas de participar de seus cadastros de fornecedores, ampliando as oportunidades de fazer negócios em território fluminense. Essa ação aproxima as empresárias das instituições, aumenta a possibilidade de conhecer linhas de crédito específicas para o público feminino,
tirar dúvidas sobre produtos e serviços, além de fazer uma simulação sobre linhas de financiamento.

Sobre as expectativas do Programa para 2024, a coordenadora de Empreendedorismo Feminino na Superintendência de Autonomia Econômica da Secretaria Estadual da Mulher do RJ, Marcele Porto, está muito otimista e com pretensão de ampliação: “O objetivo cada vez mais é fortalecer o ambiente empreendedor para as mulheres no Estado do Rio, para que elas se apropriem desse lugar, consigam ver no Estado uma rede de apoio que ajude a fomentar o seu negócio e que realmente o Estado seja um parceiro para que essas empresas sejam promissoras a longo prazo.”

O PROTAGONISMO DA MULHER EMPREENDEDORA

O empreendedorismo feminino é algo recente na história brasileira. Somente a partir de 1962, as mulheres puderam abrir uma empresa sem precisar da autorização do marido, com mudanças na legislação por meio do Estatuto da Mulher Casada. Por isso, ainda é necessário entender questões específicas das mulheres dentro do mundo dos negócios e pensar em soluções voltadas para elas. Marcele Porto, coordenadora de Empreendedorismo Feminino na Superintendência de Autonomia Econômica da Secretaria Estadual da Mulher do RJ e pesquisadora da temática no Doutorado em Economia, na UFF, explica mais sobre o assunto e aborda a necessidade de ter políticas públicas que incentivem as mulheres a conquistar esse espaço.

Fever – Quais são os principais benefícios que o empreendedorismo traz para as mulheres?
Marcele
– Em geral, o empreendedorismo é percebido com muitos benefícios para as mulheres, principalmente pela questão da mulher buscar uma forma de ter independência financeira e conseguir conciliar isso com o cuidado da família. O empreendedorismo acaba sendo percebido como um estilo de vida que permite maior flexibilidade de tempo, e essa atuação, que na maior parte das vezes é autônoma e individual, no caso do universo feminino, permite que a mulher consiga conciliar o tempo que ela dedica para a família e para o negócio dela

Fever – Como o fortalecimento do empreendedorismo feminino contribui para o desenvolvimento social e econômico do Estado?
Marcele – A mulher, quando executa atividade para geração de renda, abre um negócio, ela está contribuindo para o crescimento econômico. Ela está nesse movimento promovendo o bem-estar, não só da sua família, mas principalmente do seu entorno, da sua comunidade, além de gerar empregos diretos ou indiretos. Um outro fator muito importante é que mulheres têm a tendência de empregar outras mulheres, se tornam referências para que outras mulheres também tenham um impulso de tomar a decisão de fazer uma atividade de geração de renda para buscar a sua autonomia econômica. Então, para um país, um Estado, para uma localidade se desenvolver, a geração de emprego e a criação de empresas são muito importantes para fazer o fluxo financeiro girar.

Fever – Quais são as dificuldades que as mulheres enfrentam no mundo dos negócios?
Marcele – O ponto principal de maior dificuldade é que culturalmente as mulheres estão atreladas às tarefas domésticas e aos cuidados familiares. Por muito tempo, ser mulher esteve conectado a essas atividades domésticas, como se isso fosse uma aptidão natural. E essa construção social acaba influenciando a maneira com que as mulheres se inserem no mercado de trabalho remunerado. Além disso, há desafios quanto ao acesso ao crédito, ao escoamento da produção e à capacitação para gerir o seu negócio. São etapas que precisam ser superadas para promover o protagonismo da mulher empreendedora, que é protagonista da sua vida, que é dona do seu negócio, e que consegue, com certeza, ser provedora do lar ou compartilhar a provisão financeira do seu lar junto com seu companheiro.

Fever – Quais são os desafios comuns que as mulheres enfrentam ao buscar financiamento para empreendimentos?
Marcele – Em relação ao porte das empresas iniciadas por mulheres, normalmente são pequenos negócios, que acabam tendo uma rentabilidade reduzida e crescem mais lentamente. Além disso, vários estudos indicam que as mulheres têm um freio na intenção de crescimento desses negócios, justamente por uma questão de medo: se o negócio se tornar grande, isso pode impactar o tempo de atenção e cuidado com suas famílias. Existem muitos pesquisadores fazendo essa correlação no mundo inteiro. E se a gente verificar os estudos, a taxa de mortalidade das empresas iniciadas por mulheres, em comparação às empresas iniciadas por homens, ainda é maior. Então é um grande desafio as empresas iniciadas
por mulheres terem sustentabilidade a longo prazo. Adequar os órgãos que concedem investimentos e financiamentos para empresas iniciadas por mulheres é uma perspectiva que nós pretendemos analisar. Estamos avaliando como tornar isso possível com uma outra dinâmica, que seja customizada para as necessidades de um perfil de negócio diferente, que em geral está no setor de varejo, hospitalidade, de serviço e que são setores menos rentáveis. Isso, em geral, se torna um obstáculo para o acesso ao crédito. Esse é um desafio que nós estamos nos propondo a olhar com cuidado nos próximos anos.

Fever – Como o Programa Empreenda + Mulher está facilitando o acesso das mulheres a recursos financeiros para iniciar ou expandir seus negócios?
Marcele – Nós fizemos duas edições do programa Empreenda + Mulher, que trouxeram respostas bem significativas no que tange às Rodadas de Negócios, que são muito fortalecedoras para as participantes. Essas Rodadas são potentes não apenas pela formação da rede de apoio, do networking e da conexão com possíveis fornecedores ou consumidores dos seus produtos e serviços, mas principalmente pela superação de alguns medos e por aprofundar o conhecimento acerca dos financiamentos que estão disponíveis para os negócios dessas mulheres.

Fever – Quais são as estratégias da SEM para garantir que mulheres de diferentes origens e contextos tenham oportunidades iguais?
Marcele – A principal estratégia para promover oportunidades iguais para as mulheres fluminenses é realmente compreender as diferenças das nossas regiões, dos tipos de negócios, das necessidades de cada mulher do nosso estado, de cada município, de cada contexto. Ao longo do ano de 2023, nós viemos conversando com instituições de ensino, de pesquisa, aprofundando cada vez mais esse diagnóstico do empreendedorismo feminino para entender quem é essa mulher empreendedora, trocando com as instituições que fazem tanto o atendimento quanto a busca desses dados para compreender esse perfil de mulheres. Estamos incentivando muito o desenvolvimento das competências relacionadas às atividades empreendedoras, participando, estimulando, estando presentes como apoiadores de cursos, seminários, fóruns, palestras e encontros que realmente fortalecem e incentivam essa cultura empreendedora. Um marco fundamental já dessa gestão foi a inserção no calendário oficial do estado do Mês Estadual da Mulher Empreendedora. No mês de novembro inteiro, passamos pelas regiões do nosso Estado fazendo palestras, conversando sobre gestão das empresas, planejamento, fomentando o empoderamento e uma transformação da percepção dessas mulheres no contexto em que elas estão inseridas.