
Há uma crença de que o campista só reconhece seus talentos quando esses são reconhecidos fora da cidade. E se tem uma coisa que Campos tem, é gente talentosa. Mas será que a gente reconhece mesmo? Nascido em Campos dos Goytacazes, o sambista Wilson Batista tomou gosto pela música ainda criança, influenciado pelo seu tio Ovídio Batista, que tocava vários instrumentos e era maestro da Lira de Apolo. Foi na Lira, inclusive, que Wilson Batista (também conhecido como Wilson Baptista – como está escrito na certidão e como ele assinava, embora o nome profissional fosse sem o “p”) – começou sua vida na música tocando triângulo.
Chegou a compor várias músicas para o bloco “Corbeille de Flores” aqui da cidade de Campos, mas acabou se mudando no f i m dos anos 20 para o Rio de Janeiro. Se apaixonou pela vida boêmia e se tornou um verdadeiro malandro carioca.
Muitos o conhecem por sua “polêmica” com o compositor Noel Rosa, que gerou sambas inesquecíveis de ambos os lados, como “Lenço no pescoço”, “Conversa fiada” e “Frankenstein da Vila”, de Wilson e “Feitiço da Vila”, “Palpite infeliz” e “Rapaz folgado” de Noel. A provocação se transformou em amizade e virou até disco, “Polêmica”. Porém, muitos historiadores afirmam que Wilson foi na verdade, muito maior do que a “treta”.
Fez mais de 700 músicas, entre elas, grandes sambas como “Emília”, “Oh, seu Oscar”, “Acertei no milhar” e tantos outros.
Um novo projeto fonográfico com quase duas horas, resgatou a voz do sambista em 2023, e inclui sete músicas inéditas com várias participações. É o álbum duplo “Wilson Baptista – Eu Sou Assim”, do Selo Sesc, que traz 34 canções. A recuperação da voz do homenageado aparece em 13 faixas, e em 3, simulando duo com outras participações.
Rodrigo Alzuguir é quem reuniu os registros, feitos nos anos 1960 de forma caseira, em gravador de rolo, por Wilson, acompanhado somente pelo violão de Manuel da Conceição, o Mão de Vaca. A gravação, que tinha sucessos e raridades (como sete apresentadas no disco), seria para um álbum da cantora Thelma Soares, que nunca saiu.
A história de Wilson Batista serve não só para pensarmos em como um dos autores mais populares da música brasileira entre as décadas de 1930 e 1950 morreu esquecido, mas em como é comum o apagamento de figuras históricas da cidade de Campos dos Goytacazes.
De cabelos cacheados e chapéu de lado, vendeu muitos sambas e não deixou ninguém para cuidar de seu acervo. Talvez por isso seja desconhecido para alguns, inclusive dos conterrâneos. Mas reconhecido e relembrado por muitos, Wilson Batista é campista, Wilson Batista é coisa nossa!
@descubracampos
