Ele não para. Começou no rádio, é sucesso no teatro, cinema e televisão, faz novela, dublagem, escreve roteiro, é apresentador, comediante, entre outras linguagens artísticas. Todas as atividades o preenchem de formas diferentes. E, para contrabalançar, entre um trabalho e outro, o que ele procura é a alternância dos gêneros e dos veículos, afinal, como ele mesmo define, “as possibilidades da arte são infinitas”.
Também são infinitos seus trabalhos. Está em turnê com o espetáculo sucesso de público e crítica “Vocês Foram Maravilhosos” – que esteve em Campos a convite da Fever. Mas também pode ser visto no filme recém lançado “Vai Ter Troco”, em breve vai rodar a comédia romântica “Amor na Contramão” e está se programando para, em janeiro, retornar com o premiado musical “Alguma Coisa Podre”, indicado a 16 das 22 categorias de teatro em premiações, como melhor ator, melhor elenco, melhor versão, entre outros. E fecham-se as cortinas? Claro que não. Ele ainda quer ter um programa para chamar de seu. Para falar sobre isso e muito mais, chamamos “ao palco” neste bate-papo com a Fever, o talentoso e bem humorado Marcos Veras.

Foto: Diomarcelo Pessanha
Fever – Sucesso de público e de crítica teatral, o espetáculo “Vocês foram maravilhosos” continua percorrendo o país, contando histórias da sua vida. Transformar a dor em humor é o mais difícil dentro deste contexto?
Veras – Olha, eu acho que transformar a dor em humor foi a saída mais bonita que eu pude ter, porque é uma dor que vai me acompanhar pela minha vida inteira. Então, porque não transformar isso num espetáculo? Por que não transformar isso em arte? Em humor? E dividir isso com a plateia? Então, foi a única forma que eu encontrei de trazer um conforto para essa dor e para esses traumas que eu vivi, né? Que muitos brasileiros vivem, que muitos seres humanos vivem de perder seus entes queridos, seus amores, seus pais, mães e irmãos. Foi a forma mais tranquila que eu achei de transformar isso em arte.
Fever – Convidar uma pessoa da plateia para interagir no palco é um dos momentos superinteressantes. Neste caso não existe texto, tudo na base do improviso. Isso requer muito jogo de cintura, certo?
Veras – É, nesse momento do espetáculo, tudo pode acontecer, né? É um momento muito bonito. É onde a gente vai do humor ao drama, vai do riso ao choro e, em cinco, seis minutos. Então, eu conheci histórias lindas de pessoas que subiram de forma espontânea no palco e se abriram mesmo que um pouco, né? Mesmo que de forma rápida, mas se abriram sobre suas dores, seus medos e seus sonhos; suas vontades, suas frustrações… gente que falou do seu pai, gente que falou dos seus empregos, dos seus medos, e isso é muito bonito. Porque, neste momento do espetáculo, eu transformo a plateia em protagonista, coloco essa pessoa como comandante do espetáculo e, sim, requer um jogo de cintura para que eu possa conduzir isso da melhor forma possível, para que a pessoa se sinta à vontade, que ela não fique constrangida, com vergonha, pelo contrário. O que aconteceu em todas as apresentações foram pessoas que se sentiram muito à vontade em casa, gente que já fez terapia, gente que nunca passou por uma terapia e isso é muito legal de ver.

Foto: Diomarcelo Pessanha
Fever – “Vocês Foram Maravilhosos” está sendo incrível, assim como foi o recente espetáculo, o musical “Alguma Coisa Podre”, indicado a várias categorias em premiações de teatro. O personagem Nick do Rego Souto deixou saudades?
Veras – Poxa, esse musical “Alguma Coisa Podre”… Eu estou num momento de teatro, no momento da profissão também, muito bonito, né? De muitas realizações… “Vai na fé”, “Vocês Foram Maravilhosos”, mas, eu posso eleger o musical “Podre” como o maior desafio da minha carreira nos últimos anos, porque eu nunca tinha feito musical, é um musical extremamente debochado, irônico, sucesso na Broadway, sucesso aqui no Brasil, né? E eu tive a honra de fazer esse protagonista, o Nick do Rego Souto, que é divertidíssimo. Então, eu cantei, dancei, sapateei e contei uma história linda e, em breve, a gente estará de volta no Rio de Janeiro, em janeiro, se Deus quiser, mas é um musical que vai deixar muita saudade… o elenco completamente
talentoso, 22 atores em cena, orquestra. Um projeto muito especial!
Fever – A expectativa esse mês é pela estreia do filme, a comédia “Vai ter troco”, com você, Miá Mello, Nany People, Evelyn Castro, Nicholas Torres, Giovanna Grigio e grande elenco. Fale um pouco sobre ele…
Veras – “Vai ter troco” é uma comédia nacional das boas. Riso atrás de riso, sem perder a importância do assunto que é tocado no filme, que se trata dessa luta entre trabalhadores e empregados, os direitos dos empregados, de pessoas que não têm seus direitos respeitados, como salário, plano de saúde, etc. Esses patrões corruptos, dissimulados, que tratam os empregados de qualquer forma ou tratam de forma carinhosa, mas é mostrando uma falsidade enorme. Então, eu faço Afonso, que é um empresário corrupto, envolvido em política, com escândalo de merendas, que está há três sem pagar os empregados, mas
sem deixar de curtir os seus luxos, o seu charuto, a sua comida e os seus relógios. Ainda continuando nos seus esquemas de corrupção e sem pagar os funcionários, isso vai causar uma grande confusão, né? Porque os empregados buscam a vingança, só assistindo o filme para saber, mas é uma comédia das boas. Eu tô muito feliz com o resultado: é um filme muito atual.

Foto: Diomarcelo Pessanha
Fever – Televisão, teatro, dublagem, entre as tantas atividades artísticas que exerce, tem alguma delas que proporciona mais prazer ou cada um dos trabalhos desenvolvidos é um “filho” querido e diferente?
Veras – Eu acho que todas essas atividades me preenchem de formas diferentes, né? Eu não consigo eleger nenhum preferido. O que eu sempre busco na profissão é alternância, tanto dos gêneros, quanto dos veículos. Então, se eu estou fazendo uma novela, em seguida, eu quero fazer uma peça. Se eu estou fazendo uma peça, em seguida, eu quero fazer um filme. Se eu estou fazendo uma comédia, em seguida, eu quero fazer um drama; depois, eu quero apresentar um programa. Então, essa diversidade que a profissão do artista pode proporcionar, me atrai muito. Então, essa diversidade que a profissão do artista pode proporcionar, me atrai muito. Eu venho conseguindo fazer isso, gosto muito, mas eu não consigo eleger nenhum preferido. Eu consigo eleger algo que eu jamais deixaria de fazer, que é onde o ator é mais dono do seu trabalho, é onde o ator é mais pleno, que é o teatro. Então, teatro é algo que eu jamais deixarei de fazer. Os outros veículos que me completam, me divertem e trazem o meu trabalho com uma exposição muito maior. A televisão, por exemplo, tem um alcance absurdo e é muito importante para o artista, se a gente for falar em um nível Brasil e mundo.
Fever – O humor hoje é diferente do praticado há 20 anos, por exemplo, quando palavras e atitudes ofensivas e consideradas normais não são mais aceitas. Recentemente você declarou: “O limite do humor é a lei”. É isso?
Veras – Sem dúvida, né? O humor não está acima de tudo e de todos. O humor, ele acompanha e tem que acompanhar as mudanças da sociedade: a sociedade muda, a sociedade busca novos diálogos, novas conversas, novos limites. O humor tem que acompanhar. Então, se nos anos 80/90 se fazia piada com loira, piada machista, não que, na época, fosse permitido, né? Mas, na época, se passava batido, as pessoas faziam e as pessoas riam. Ninguém discutia sobre isso e, hoje, se discute. Hoje, o olhar é outro. Acho isso importantíssimo. Então, eu acho que, quando alguns comediantes usam uma comédia para falar “é só uma piada” é diminuir a importância que a comédia, que o humor tem. Eu acho que o limite do humor, sim, é lei, como tudo na vida, né? Se você está praticando crime, não há humor, não há piada.
Fever – Você começou no rádio e faz novela, teatro, cinema, dublagem, escreve roteiro, é apresentador, entre outras linguagens artísticas. Ainda falta alguma coisa ou as possibilidades na arte são infinitas?
Veras – Sem dúvida, as possibilidades da arte são infinitas. Ainda quero realizar muita coisa. Ainda quero ter um programa meu, por exemplo. Eu adoro entrevistar, eu adoro comandar como apresentador. Até produzi uma primeira temporada no YouTube, do “Falando a Veras Convida”, onde eu recebi vários convidados para um bate-papo descontraído, emocionante, divertido, como Marcelo Serrado, Vanessa Giácomo, Lúcio Mauro Filho, Gabi Amarantos… A gente quer fazer a segunda temporada, mas, sim, eu tenho vontade de fazer um filme com roteiro meu. Eu tenho vontade de fazer um drama no teatro em breve. Eu tenho muitas vontades… essas vontades vão mudando também, essas vontades vão se transformando, mas a possibilidade da arte é infinita.

Foto: Diomarcelo Pessanha
Fever – Além do aclamado espetáculo “Vocês foram maravilhosos” e do filme “Vai ter troco”, tem mais novidades por aí?
Veras – Em breve, eu vou rodar um novo filme, chamado “Amor na contramão”, que é uma comédia romântica, com a direção do Homero Olivetto. Em janeiro, tudo indica que o musical “Podre” vai para o Rio de Janeiro, fazer essa estreia carioca, e é isso por enquanto.
Fever – Em meio a um turbilhão de emoções que a arte proporciona, não tem emoção maior do que estar com a família. O seu momento filho, irmão, marido ou pai são essenciais para repor as energias?
Veras – Ah, sem dúvida! Esse meu primeiro semestre foi de muito trabalho, de trabalhos diferentes, inclusive fora do Rio, fora da minha casa, o que automaticamente faz com que eu fique ausente. Talvez, tenha sido a minha maior dificuldade, porque eu morro de saudade da minha família. Eu sou muito caseiro, eu quero ver cada vez mais a evolução e o crescimento do meu filho. Então, eu tento, na medida do possível, administrar esse tempo para que eu possa estar presente e, não on-line, presente fisicamente e emocionalmente. Então, sem sombra de dúvida, a minha família, o meu irmão, a minha mãe e os meus amigos, são a minha base. Eu amo meu trabalho, amo fazer o que eu faço, mas é muito bom voltar para casa e ficar em casa também, curtindo o Davi e a Rosane.