
A arte sempre teve o poder de tocar as pessoas de maneiras profundas e únicas. Ao longo da história, ela tem sido usada para expressar emoções, refletir sobre questões importantes e contar histórias que falam diretamente à alma. A beleza da arte está em sua capacidade de fazer as pessoas se sentirem conectadas, tanto consigo mesmas quanto com as outras, criando um senso de pertencimento e compreensão.
Em muitas situações, a arte surge como um escape das dificuldades do dia a dia, permitindo que as pessoas encontrem um espaço para desabafar suas emoções e descobrir novas formas de enfrentar desafios. Para outros, ela se torna uma maneira de lutar por mudanças, de dar voz às suas histórias e de abrir novas possibilidades.
No Brasil, onde as desigualdades sociais são tão presentes, a arte desempenha um papel ainda mais importante. Ela não é apenas um meio de entretenimento, mas também uma ferramenta poderosa de inclusão, ajudando a unir diferentes grupos e promover transformações em comunidades inteiras. Quando as pessoas se envolvem com a arte, elas ganham novas formas de ver o mundo e, muitas vezes, se descobrem mais fortes e capazes de mudar suas próprias vidas e o ambiente à sua volta.
A Revista Fever foi às ruas de Campos e entrevistou três pessoas que tiveram a vida transformada pela arte.
UM AMOR AO TEATRO QUE DARIA UM BOM FILME

O cineasta campista Maycon Gual – hoje diretor da Casa de Cultura José Cândido de Carvalho, em Goitacazes, a primeira Casa de Cultura de Campos – viveu essa transformação de perto. Desde muito jovem, ele se encantou com o mundo das artes, e sua primeira experiência com o palco foi aos 10 anos, quando participou de um concurso de calouros da antiga TV Planície. Esse momento foi marcante para ele e abriu as portas para uma vida dedicada à arte. “Foi a minha primeira experiência com o palco, para nunca mais deixar de me envolver com o ofício artístico”, lembra Maycon.
A partir daí, ele continuou a explorar o mundo artístico durante sua adolescência, participando de desfiles e concursos de modelos, o que lhe deu mais confiança para se apresentar em público. No entanto, o desejo de atuar no teatro ainda era forte.
Em 2004, enquanto cursava Análise de Sistemas, Maycon encontrou uma oportunidade que mudaria sua vida: uma oficina de teatro no SESC com o diretor Amir Haddad. Ele não sabia na época o quão importante Amir era para o teatro brasileiro, mas decidiu participar. Essa oficina culminou em uma apresentação inesquecível na Praça do Liceu, quando percebeu que o teatro era o caminho que queria seguir. Desde então, se dedicou totalmente, tanto como ator quanto como diretor, e se tornou uma figura importante no cenário artístico de Campos, inspirando outras pessoas com sua paixão pela arte.
PAIXÃO PELA ARTE: DOS QUADROS DE SUA MÃE AO SEU PRÓPRIO ATELIÊ

Já para o artista plástico e curador Matheus Crespo, a arte não foi algo presente desde cedo, mas uma paixão que surgiu de forma inesperada e mudou completamente sua vida. Quando criança, frequentar museus ou galerias era algo distante. No entanto, as escolhas simples de sua mãe, que costumava se dar quadros de presente de aniversário, despertaram nele um olhar especial. “Observar o valor que ela depositava naquele objeto me marcou muito”, relembra.
Com o tempo, sua vida o levou a um curso técnico e, mais tarde, à faculdade de Engenharia no Instituto Federal Fluminense (IFF). Mas foi durante um intercâmbio pelo programa “Ciências Sem Fronteiras”, na China, que sua percepção mudou completamente. Após dois anos imerso em uma cultura rica e desafiadora, ele voltou ao Brasil decidido a trilhar outro caminho e se dedicou a explorar, errar e acertar, até encontrar sua voz como artista e compreender como poderia usá-la para transformar o mundo ao seu redor.
Um dos momentos mais marcantes dessa caminhada foi a inauguração de seu próprio ateliê, um sonho que parecia quase impossível, mas que se tornou realidade graças às parcerias e ao poder de sonhar junto. A abertura do espaço foi celebrada com a exposição “Enraizar”, que aborda a ancestralidade como uma tecnologia capaz de sustentar sonhos e caminhos.
“O meu ateliê é um espaço onde produzo, pesquiso e também recebo exposições, tanto individuais quanto coletivas. Caminhar com essas raízes e pensar nos sonhos dos meus ancestrais é o que tem me possibilitado realizar. Nunca sozinho.”
“A arte é um convite ao encontro, ao diálogo e à construção de um mundo mais humano.”

ARTE URBANA: “UMA PODEROSA FERRAMENTA SOCIAL E CULTURAL
O artista urbano Pablo Malafaia também encontrou na arte uma forma de se expressar e compreender o mundo ao seu redor. Seu interesse pelo universo artístico começou ainda na adolescência, quando conheceu pessoas que o introduziram ao meio. Porém, foi na faculdade que ele teve as primeiras oportunidades de explorar a arte urbana. “Comecei a desenvolver meu trabalho nos muros da cidade, algo que até hoje faço com grande paixão”, compartilha.
Para ele, o momento mais transformador foi quando percebeu como a arte poderia conectá-lo à sua origem, ao seu espaço e às pessoas ao seu redor. “Foi um processo de autoconhecimento, entender o lugar a que pertenço, minha cidade e minha comunidade. A arte me ajudou a enxergar tudo isso de uma maneira mais profunda”, conta.
“Levar a arte para os muros é como escrever histórias e marcar passagens. Os muros sempre contaram histórias desde os primórdios, e eu continuo fazendo isso até hoje.”
Além de ser uma forma de expressão pessoal, Pablo acredita que a arte urbana tem impactos profundos nas comunidades. “Ela potencializa o que pode ser visto e, ao mesmo tempo, dá visibilidade a aspectos que muitas vezes passam despercebidos”, explica. Para ele, a arte é uma poderosa ferramenta social e cultural, com o potencial de provocar reflexões e mudanças: “A arte molda pensamentos, transforma realidades e questiona as estruturas. É uma das maiores ferramentas de inclusão que temos.”
As histórias de Maycon, Matheus e Pablo mostram que a arte vai além da expressão estética: ela é ferramenta de transformação da vida. Seja no palco, no ateliê ou nos muros da cidade, a arte tem o poder de resgatar memórias, criar pertencimento e provocar mudanças. Cada um à sua maneira, eles são a prova de que a arte não apenas transforma quem a pratica, mas também impacta aqueles que a recebem, ampliando horizontes e fortalecendo vínculos.