
A produção artesanal de doces está cada vez mais valorizada no mercado. De acordo com dados do Mordor Intelligence, responsável por pesquisa e monitoramento, o setor da confeitaria deve ter um crescimento anual composto de 3,45% entre 2021 e 2026. A confeitaria é um dos setores que mais cresce no país, com um faturamento estimado em R$12 bilhões por ano. Junto com esse crescimento, aumentam as oportunidades da independência financeira através da produção de docinhos.
Desde pequena, nas festas da escola, Lara Helena Cardoso da Silva, hoje com 28 anos e proprietária da Brigadeirando, era a responsável por levar os docinhos. O que ela jamais imaginava é que essa seria a sua profissão, sua paixão e fonte de renda. “De forma despretensiosa, em 2014 eu decidi largar o trabalho que eu tinha como vendedora em uma ótica no Centro de Campos, porque estava difícil conciliar com a faculdade de Arquitetura, e foi durante o aviso prévio deste trabalho que eu comprei uma lata de leite condensado, chocolate, creme de leite e paçoca, e no dia seguinte, no horário de almoço, eu já estava de porta em porta no Centro, vendendo os meus doces”, conta Lara.
Ela conta que sempre amou um docinho, e admira a forma como ele leva felicidade às pessoas. Além de vender os docinhos no Centro, os colegas da faculdade também viraram sua clientela. “Eu vendia o doce por unidade, então quando comecei a vender 20 ou 30 unidades fiquei mega empolgada. Apesar disso, o processo no início, principalmente na rua, era muito difícil, tinha olhar de deboche, alguns comerciantes não deixavam nem eu entrar para apresentar o meu trabalho, era complicado, mas isso não me desanimava. Foi ao final da faculdade, em 2017, com as produções de doces para festas em alta, eu virava as noites produzindo, e me aproximava de ter que tomar uma decisão. Me formei em Arquitetura, mas em seguida escolhi ficar com a Lara da Brigadeirando e abri mão da Lara arquiteta”, comenta a empreendedora, que hoje chega a produzir de 2 a 2,5 mil docinhos em um final de semana.

“Muitas pessoas acreditam que uma cafeteria é a idealização, a cereja do bolo, a materialização do sucesso do confeiteiro, mas eu entendi que a produção artesanal sob encomenda era o meu negócio, que atuar no meu atelier é o que se encaixa na minha disposição de rotina, o que me faz feliz. Sou apaixonada por doce e sou a maior fã do meu trabalho. Além de ser um negócio rentável para mim, tenho duas funcionárias, e eu costumo brincar que elas são meu braço direito e meu braço esquerdo, porque eu sei que posso contar com elas”.
A fim de se moldar ao mercado dos doces, Lara decidiu se arriscar com os bolos. “Comecei a me interessar em entrar no ramo de casamentos, foi difícil demais! Foram alguns anos tentando, participando de feiras, conectando com pessoas, para que isso acontecesse. Só no primeiro semestre deste ano foram 25 casamentos, o que corresponde ao total de casamentos que fizemos ao longo de todo o ano de 2023. Estamos muito felizes, pois tivemos muita persistência”, destaca a confeiteira.
PROFESSORA EM UM TURNO DO DIA, CONFEITEIRA EM OUTRO!
Diferente da Lara, da Brigadeirando, dona Aparecida Koch, de 59 anos, não tem a confeitaria como a sua renda principal, até porque ela se dedica há anos à Educação, pois atua como professora concursada da educação infantil/creche no município. A confeitaria artesanal chegou na sua vida como uma paixão de família, e se tornou a renda complementar da professora. “Eu leciono na parte da manhã, já na parte da tarde, eu assumo como a Aparecida confeiteira. São duas paixões! O meu carro-chefe é o quindim, receita de família, passando de uma irmã para a outra. Ele é um sucesso”, conta a proprietária da Laço de Coco.
Dá para imaginar que na casa da Aparecida, local onde ela prepara os doces, não podem faltar muitos ovos, açúcar, trigo e coco, ingredientes básicos para preparar o famoso quindim. “Conciliar com o trabalho de professora é um pouco mais desafiador e requer muita organização. Toda segunda-feira, eu sempre me organizo para comprar os insumos, pois é preciso ter pelo menos os ingredientes base para preparar os doces. Tento administrar as duas ocupações, só pego encomendas que estão ao meu alcance produzir”, comenta.
Segundo Aparecida, a ideia de começar a fazer o quindim para vender surgiu das festas em família, pois era o doce que sempre terminava rapidinho. E em 2017 começou a fazer sob encomenda. “No início, eu tinha receio de investir em muitas formas de quindim e o negócio não dar certo. Com muita coragem, comprei as formas, em um mês de produção eu as paguei. Deu tão certo que minhas filhas me incentivaram a criar um perfil no instagram, então surgiu a marca ‘Laço de Coco’, coco por causa do quindim e o laço por conta do vínculo com os outros doces que eu já produzia”, destaca.
Com a chegada da pandemia, e as reuniões dentro de casa, Aparecida enxergou no momento a oportunidade de começar a fazer bolos pequenos, decorados de forma mais simples, com frases engraçadas. “Eu fiquei mais de um ano parada em casa por conta da pandemia, as aulas demoraram para retomar. Comecei a assistir vídeos na internet e me arrisquei a fazer. Hoje, sozinha eu produzo em torno de 10 bolos e mais de 1,5 mil quindins por mês”, detalha Aparecida.
“A confeitaria artesanal na minha vida é muito expressiva. Além da paixão em produzir doces, tudo feito com muito carinho, é rentável para mim. Com os doces, eu consigo ter uma renda extra, que chega a ser proporcional ao meu salário de professora.
Sobre o futuro, Aparecida conta que está a 4 anos de se aposentar como professora e pretende fazer da confeitaria a sua ocupação principal. “Quem sabe uma loja física, aumentar a produção, tenho muitos planos para o meu negócio. Quem gosta de algo, seja na confeitaria ou em outra área, se arrisque, o risco pode te levar a dois caminhos, o que dá certo ou o que não dá, mas que te ensina muito, te prepara melhor para a próxima tentativa, até dar certo”, finaliza Aparecida.