Uma mulher forte, revolucionária e à frente do seu tempo: essa é a descrição que a maioria das pessoas que conhecem a empresária Diva Abreu Barbosa fazem dela. Mas há muito mais nesta história por trás da fortaleza que ela demonstra ser, e de fato é. Ao lado do seu marido, o jornalista Aluysio Barbosa, fundou o jornal Folha da Manhã, em 1978, que se tornou o maior jornal da região Norte Noroeste Fluminense, tendo sido ela a responsável por toda a parte comercial e administrativa da empresa. O jornal cresceu e tornou-se o Grupo Folha, composto por veículos de comunicação como Plena TV; Rádio Folha FM; O Dia FM, em Macaé; Folha 1 Digital, além da InterTV, afiliada à Rede Globo. Além disso, a empresária e professora foi uma grande incentivadora da cultura na cidade, tendo criado o Prêmio Municipal de Cultura Alberto Lamego, dentre diversos outros feitos. Ao leitor da Fever, Diva conta sobre os anos iniciais da Folha da Manhã e a construção da sua carreira, como ela e seu marido sempre optaram por uma comunicação íntegra, e ainda os desafios que precisa enfrentar hoje em dia, com o mundo cada vez mais digital.
Fever – Como foi para você e Aluysio fundar um jornal no final dos anos 70, numa cidade com as características de Campos?
Diva – Na verdade, foi um grande desafio. Campos sempre foi uma terra de vários jornais e jornalistas importantes. Aluysio, vindo do Rio, do antigo Jornal do Brasil, retornou a Campos com outra mentalidade, porque o JB era uma escola, até a modernidade da imprensa. Aluysio era um grande profissional, o talento era dele. Mas a gestão, o comercial, tudo fui eu que fiz. Ele só queria a coisa boa. Eu, não. Meu sonho tem que ser a realidade!
Fever – Como foi a transição de uma mulher envolvida nas lutas estudantis no Rio para a fundadora de um respeitado jornal?
Diva – A minha cabeça abriu quando eu fui para o Rio estudar. Eu fiz história na Santa Úrsula, que era ligada à PUC, e lá tinha um pensionato. Foi lá que eu abri as portas para o mundo. Fiz parte do diretório, conheci um monte de gente. Participei de passeata pela volta da democracia, fui presa, e por aí vai. Em Campos, já dando aula, conheci Aluysio, eu fui para o Rio com ele fugida. Entrei no carro e fui, não disse nada para ninguém.
Fever – Ao longo da história da Folha da Manhã, você cumpriu um papel de fundamental importância. Como aconteceu o projeto de fundar um veículo de comunicação ao lado do seu marido?
Diva – Depois de alguns anos no Rio, com uma maior bagagem jornalística, voltamos a morar em Campos. Na época, a Coperflu (Cooperativa Fluminense dos Produtores de Açúcar e Álcool) estava pujante. Foi quando decidimos abrir uma agência de publicidade, a Moenda, que tinha a Coperflu como um dos clientes. Era uma coisa decente, moderna, diferente do que Campos conhecia. Estava trabalhando na agência e na faculdade, dando aula de História e no curso de Comunicação. A agência deu um gás para a gente conseguir montar o jornal com os outros dois fundadores, Pereira Júnior e Andral Tavares, todos com o mesmo número de participação. Era o sonho de Aluysio e Pereira ter um jornal, e tudo foi montado em seis meses. Naquela época, com uma estrutura totalmente nova em todos os sentidos. Aí Pereira comprou o prédio, que depois a Folha comprou, onde está até hoje.

Fever – Como você vê o papel dos veículos que compõem o Grupo Folha na comunidade local e regional?
Diva – Acho que o Grupo Folha de Comunicação tem uma presença forte, mesmo em nosso novo tempo. Afinal, são 45 anos de estrada e liderança. Somos respeitados não só por nossa competência, mas também pelo trabalho digno. As pessoas sabem que a gente não é comprado por dinheiro nenhum. A gente não se vende, não adianta. Se a causa é boa, ótimo, não precisa nem pedir. Agora, se a causa for ruim, a gente não faz, porque um escorregão tira toda a sua história.
Fever – É da natureza de vocês, como Grupo Folha, abrir portas para o novo. Na política, no jornalismo, em tudo. Vocês têm o compromisso de criar os eventos, de gerir a sociedade campista, mas sempre com viés de trazer o novo. Por quê?
Diva – Porque não temos esse compromisso com a sociedade patriarcal e tradicional. Não temos compromisso com essa galera. Jornal é uma coisa muito séria, não pode ser balela. Você não pode abrir exceção, para dar notícia sem imparcialidade, por dinheiro nenhum. Nem se você me der milhão de dólares. Precisa ter seriedade, respeito ao público. A gente já rejeitou dinheiro alto. Aluysio seguia a mesma coisa, e nossos filhos, Aluysinho e Christiano, seguem também.
Fever – Com sua visão comercial sobre a comunicação, o jornalismo e os eventos, você que sempre trabalhava com as empresas, os patrocínios, as matérias e os eventos. Fale um pouco sobre isso.
Diva – Não é fácil numa sociedade patriarcal. Campos é uma sociedade falsamente aristocrática, mas, é o que você tem. Equilibrar esse trapézio não é fácil. Mas, ao mesmo tempo, eles respeitam a história construída. Nós começamos com a história de fazer evento, a Feijoada da Folha fez 45 anos agora. Os eventos são nosso braço forte. Foram inúmeros desde o nosso início, com shows na praia, coquetel na Expoagro de Campos, Feijoada, show no Teatro Trianon para convidados, Prêmio Troféu Folha Seca…
Fever – O que você consegue fazer no setor comercial ainda é algo muito seu. Ninguém consegue fazer o que você tem feito. O que te norteia?
Diva – “A diferença está na qualidade”. Esse slogan foi criado e eu sempre dizia: honra seu slogan. Vamos dizer para o cliente o que pode e o que não pode. É um negócio que tem estrutura e regras, é por isso que a gente tem essa credibilidade, e Aluysinho e Christiano vão pelo mesmo caminho. O leitor não é burro, ele tem compromisso com a notícia. É por isso que a gente está até hoje, com todos os trancos e barrancos. Eu não me entrego, não!
Fever – Você é um exemplo para as mulheres empreendedoras da cidade, porque você é uma mulher forte que lida com o comercial, grandes empresas e grandes políticos. Pode contar um pouco sobre como foi ser uma mulher empreendedora na época em que começou na Folha da Manhã?
Diva – As amarras, historicamente, sempre acontecem, dependendo do tom da sociedade patriarcal. Rompê-las não é fácil, mas possível. Basta ter dignidade e competência para quebrar os grilhões. Não é fácil, é um exame de consciência. Mas a dignidade está acima de tudo.
Fever – Você chegou a voltar a dar aula na faculdade, quando retornou à Campos?
Diva – Voltei e pintei. Fiz uma coisa que nunca mais teve, a Semana da Universidade de Arte e Cultura, SUAC. Fiz duas edições com meus alunos. Ao invés de eu dar aulas de cuspe e giz, eu dava isso como trabalho, ao invés de prova. Dividia as equipes. Tinha o curso de Comunicação e o de Pedagogia, que tinha aula de cultura brasileira no último período. Eu trouxe todas as expressões culturais na segunda SUAC. Consegui dinheiro na Funarte (Fundação Nacional de Arte), fui com as minhas alunas. Chegamos e encontramos um general, na época da ditadura (eu era de esquerda, e sou até hoje). O homem me deu, não sei quantificar, mas foi R$ 200 mil, acho que é uns R$ 2 milhões hoje. Aí eu trouxe, inclusive, o diretor teatral Aderbal Freire Filho, que ficou aqui um mês ensaiando. Ele fez “O auto da compadecida” num circo. Lotou! Trouxe todas as expressões culturais, Gonzaguinha, MPB… E tudo pelos estudantes. Tudo!
Fever – Você sempre focou em investir na área de comunicação, sem perder o foco para outras coisas, profissionalmente falando. Isso é importante para você?
Diva – Sim. Quando eu fui professora, primeiro, nunca faltei. Segundo, era durona. Terceiro, dava novas lições. Não é história de decoreba, era completamente diferente. Mudei o ensino de História do Brasil em Campos. Tanto na faculdade, quanto no Liceu e na cultura brasileira. E isso, para você construir, não pode ser aula de cuspe e giz. Tem que criar alternativas, as pessoas aprendem também de outra forma. Sinto muita falta da minha cátedra. Eu explicava o porquê, para que, de tudo, principalmente da cultura brasileira. Você tem que dar um pouco do momento histórico. As coisas não só acontecem. O século 19 não é igual ao século 20, nem ao 21, e por aí vai. Tudo tem uma causa, nada vem do nada.
Fever – A Folha nasce física e tem um caminho gigantesco. Agora, está indo para o digital, cada vez mais. Qual o motivo disso?
Diva – É uma febre e realmente não tem volta. Minha neta Valentina, filha de Christiano, passa o dia inteiro no celular. Até quando a gente vai sobreviver com impresso? Não me pergunte. Eu acho que as pessoas, no nosso caso específico, que já leram o papel a vida toda, mesmo que estejam inseridas no contexto digital, ainda permanecem com o impresso, mas elas vão morrer. Então a nova geração é um ponto de interrogação. E acho que a gente tem que ser cada vez mais digital.
Fever – Só que o impresso traz mais credibilidade, né?
Diva – Para as marcas, o impresso é o que credibiliza. Porque no digital pode tudo, todo mundo está lá. Agora, você não vai botar tudo no jornal impresso. Passa por uma curadoria, por um marco de credibilidade. No digital não há limite, é tudo franqueado, a tudo e a todos, isso é onde mora o perigo, porque o mundo inteiro está conectado, está mandando as coisas para o mundo inteiro, falando o que quer. Não tem filtro. O governo tem que criar regras que possam minimizar isso. Como você não responsabiliza o Facebook, o Instagram, ou tantas empresas estrangeiras que vêm para cá, ganham grana, e não têm responsabilidade sobre uma pessoa difamar alguém? Sobre um dia antes da eleição, eu disparar uma fake news, atingir um número abstrato de pessoas e mudar o resultado da eleição no outro dia? Como que não vai ter algum limite disso? Impossível.

Foto: Farhat
Assistência: Aline Vigneron
Videomaker: Alexandre Neves
Conteúdos: Luísa Pret
Beleza: Ricardo Bueno/ Karla Bernardes
Ela veste: Carolina Herrera